RELATO
AUTOBIOGRÁFICO
[extraído
de O LIVRO DE (QUASE)
TODOS, de 2004].
— Nasci num 22 de novembro,
pouco antes do cinquentenário da cidade de Ituiutaba, pelas mãos da famosa
parteira Dona Vicência Amaral. A efeméride deu-se na Vertente das Cabaças, região
do Pântano, município de Ituiutaba, a 48 quilômetros do centro.
O avô materno, abastado
fazendeiro contemporâneo da escravidão em criança, viúvo, pai de dez filhos,
uniu-se a uma viúva com três e tiveram mais dez. Minha mãe Izaura Queiroz de
Macedo,
94 anos, é a primeira dessa união.
94 anos, é a primeira dessa união.
Meu pai José Muniz de
Oliveira, conhecido por Santo, queria ser médico e meu avô não permitiu,
sabe-se lá por quê. Mas a vocação se impôs, e ele se tornou homeopata prático.
O estudo em livro grosso feito dicionário, permitiu-lhe salvar algumas vidas
com coquetéis de homeopatia. As pessoas iam de longe, a cavalo, buscá-lo para
socorro a doentes, e ele nada cobrava.
A questão de nomes reclama um
parágrafo. Ribeiro também é sobrenome de família de papai, constrangido a
suprimi-lo para evitar confusão com um homônimo mais velho; por ironia, há ou
havia duas pessoas em Ituiutaba com a nova assinatura. E mamãe, receosa de ter
outros bebês com o problema que vitimou a segunda filha ainda pequena, decidiu:
daria nome santo aos seguintes. Daí eu e duas irmãs sermos Maria, dois irmãos Divino, um Augustinho e outro Agustinho. Santo Agostinho
decerto não se ofendeu com o cochilo do escrivão do cartório, e os xarás criaram-se saudáveis.
Papai veio de berço
espírita. Homem conciliador, ao casar-se com moça criada segundo dogmas
católicos, abdicou da prática religiosa, mas conservou as convicções no pensar,
falar e agir. Jamais bateu nos filhos, nem precisava, mamãe cuidou das chineladas
no traseiro.
O primeiro
contato comigo mesma foi na garupa do cavalo de papai no campo alagado por
temporal, a caminho do casamento de uma tia. Ele deixou-me na festa e voltou, a
fim de transportar mais menino. Dali se via a nossa casa, mas o colo de mamãe
estava do outro lado do mundo. Um horror!
1947 foi ano de mudanças:
viemos para a cidade, as crianças fizemos a primeira comunhão, fomos
matriculadas no Instituto Marden. Vizinhas na Rua 16 entre avenidas 7 e 9,
Vanda e Vilma Faria levaram-nos às aulas de catecismo da Irmã Hortênsia.
Havíamos iniciado o estudo com a mana Nadyr na fazenda; pela avaliação da
Professora Ester Majadas, credenciei-me ao primeiro ano adiantado, Elza ao
segundo, Albéres ao terceiro e Álvaro ao quarto. Aparecida foi alfabetizada no
mesmo colégio, e os menores, Carlos e Zildomar, ficaram em casa.
Mal saída da Cartilha da Infância, aquela da vovó viu a uva, o trauma num Almanaque Capivarol de minha tia: um brutamontes de tanga
onça e cabeça pelada, prestes a esfaquear mocinha subjugada sob o joelho; o
pavor no rosto, ela trazia coroa de louros nos cabelos negros. Legenda: Você deixará que este comunista
mate a liberdade do seu Brasil? Sem
comentários.
O pendor
para as letras cedo deu sinal. Da folha do meio de caderno grampeado, fiz
algumas edições de jornal para mamãe: O Dia. Professoras liam minhas redações
para a turma, mas ficava de segunda época (recuperação) todo ano em matemática.
Com os primeiros namorados, iniciei a fase querido
diário. Leituras: revistas em quadrinhos e uma de crimes passionais chamada Polícia, do meu irmão. Capa apelativa,
mulheres jovens e sensuais com decotes generosos — apunhalados!
Nesse
ínterim, o capital da venda da fazenda minguou. A selvagem concorrência urbana
levou a melhor sobre boa-fé. O fazendeiro injetou dinheiro em firma falida e
foi parar atrás do balcão.
Muito
prejuízo depois, cadê energia contra minha evasão escolar a fim de trabalhar no
comércio? A Normandie, de
Vinícius Gomes Ferreira, A
Vencedora, de Aziz Mussa e secretaria do Jockey Clube, gestão de Dr. José
Zóccoli de Andrade.
Das últimas
lembranças de papai, o abraço forte e mudo ao pedir-lhe a bênção antes da
viagem de núpcias. Ele foi-se doze anos depois, mas o amor naquele toque
engasgado se imprimiu indelével.
Eu não tinha vinte anos ao casar-me com o Vereador Rodolfo Leite de Oliveira, em dezembro de 1958. Geralmente os recém-casados esperavam, cada um na casa dos próprios pais, o dia seguinte para o enfim sós. Carecíamos de boa estrutura hoteleira, de asfalto nas estradas e os aviões decolavam de manhã. As robustas aeronaves DC-3, não pressurizadas, operavam no aeroporto Tito Teixeira. Nosso primogênito começou os estudos e imitei-o, com o incentivo da sogra Maria Divina. Atualizei-me em aulas de reforço, com os professores Idelfonso Vilas Boas, Rolemberg Pinheiro, Jeová Leão e matriculei-me no Colégio Santa Teresa, com bom aproveitamento.
Devo o estímulo da vocação literária às professoras de português, Aparecida Muniz e Iara Maciel. Mãe de família, achei esquisito usar uniforme de colegial, apesar do exemplo de Rufina Jorge, nas mesmas condições, e Irmã Letícia permitiu-me freqüência à paisana. Soltei-me, vesti uniforme e exerci liderança estudantil no Colégio Normal Municipal, onde fiz parte do segundo grau, concluído no Instituto de Educação, na Capital Mineira. Iniciei licenciatura plena em História — para melhor contar as minhas, na Faculdade de Filosofia de Belo Horizonte. Conclui o curso em
Ituiutaba, outra vez engajada em política estudantil.
Eu não tinha vinte anos ao casar-me com o Vereador Rodolfo Leite de Oliveira, em dezembro de 1958. Geralmente os recém-casados esperavam, cada um na casa dos próprios pais, o dia seguinte para o enfim sós. Carecíamos de boa estrutura hoteleira, de asfalto nas estradas e os aviões decolavam de manhã. As robustas aeronaves DC-3, não pressurizadas, operavam no aeroporto Tito Teixeira. Nosso primogênito começou os estudos e imitei-o, com o incentivo da sogra Maria Divina. Atualizei-me em aulas de reforço, com os professores Idelfonso Vilas Boas, Rolemberg Pinheiro, Jeová Leão e matriculei-me no Colégio Santa Teresa, com bom aproveitamento.
Devo o estímulo da vocação literária às professoras de português, Aparecida Muniz e Iara Maciel. Mãe de família, achei esquisito usar uniforme de colegial, apesar do exemplo de Rufina Jorge, nas mesmas condições, e Irmã Letícia permitiu-me freqüência à paisana. Soltei-me, vesti uniforme e exerci liderança estudantil no Colégio Normal Municipal, onde fiz parte do segundo grau, concluído no Instituto de Educação, na Capital Mineira. Iniciei licenciatura plena em História — para melhor contar as minhas, na Faculdade de Filosofia de Belo Horizonte. Conclui o curso em
Ituiutaba, outra vez engajada em política estudantil.
No ano imediato,
1976, estreei em literatura no Suplemento Literário do Minas Gerais, órgão
oficial do Estado. Sou a primeira mulher ituiutabana a assumir
profissionalmente a ficção. Tenho registro de jornalista colaboradora no
Ministério do Trabalho e alguns prêmios literários. O
primeiro livro de contos foi considerado, pela União Brasileira de Escritores, o melhor do ano 1978. Entre os títulos no mercado incluem-se livros espíritas autorais (não psicografados), a partir de 1989. Por opção pessoal doei os direitos autorais dessas obras a instituições espíritas.
primeiro livro de contos foi considerado, pela União Brasileira de Escritores, o melhor do ano 1978. Entre os títulos no mercado incluem-se livros espíritas autorais (não psicografados), a partir de 1989. Por opção pessoal doei os direitos autorais dessas obras a instituições espíritas.
Na gestão
do Prefeito Acácio Cintra, dirigi a Divisão de Cultura da Secretaria Municipal
de Educação. A Feira de Arte mensal na Praça Getúlio Vargas e a Feira do Livro
anual, com escritores famosos convidados, são do período; na programação
paralela, promovíamos debates quentíssimos com os autores visitantes. Os
festivais anuais de MPB e música sertaneja, em separado, revelaram compositores
e intérpretes. Organizamos o I Encontro de Músicos e Instrumentistas,
exposições de pintura e de fotografia. Instalamos a Galeria de Arte Fernando
Cássio, editamos e fizemos lançamentos de livros e revistas. O troféu Ipê do Tijuco, com regulamento
próprio, destinava-se a homenagear ituiutabanos de projeção nacional nas artes
e nas ciências; instituímos ainda o Jornaleiro — valorização de um personagem de tradição
cultural também em Ituiutaba. Ambos encomendados a artistas locais: o primeiro,
a Wadim, o segundo, a Machadinho.
Onze anos fui
Assessora Editorial na RHJ, editora da Capital Mineira. Continuo no ramo, com
assessoria independente, e atuo também como ghost
writer.
Rodolfo e eu
temos três filhos: Marcelo,
professor universitário e escritor, pai do Felipe e do Daniel; Aurelio,
professor universitário, pai da Lara; Ludmila, fisioterapeuta, mãe da Josie e
da Luma.
[Dados biográficos serão atualizados em breve].
BIBLIOGRAFIA DE
ALCIENE RIBEIRO
ALCIENE RIBEIRO
Eu choro do palhaço, contos — Editora Comunicação, BH, 1978 - (Prêmio Galeão Coutinho da União Brasileira de Escritores) — São Paulo, SP,
1979.
O João nosso de toda hora, contos — Editora Comunicação, Belo Horizonte, MG, 1980.
Nos beirais da memória, romance — Editora da UFMG, BH, 1988 - (Premiado no Concurso
Nacional de Literatura Cidade de Belo Horizonte) — Belo Horizonte, MG, 1988.
...E tudo se repete, romance — Edição da Autora, Belo Horizonte, MG, 1989; iniciação Espírita.
Um pouco de luz, estudos evangélicos — União Espírita Mineira, 2ª. edição — Belo
Horizonte, MG, 1993; iniciação Espírita.
Filho de pinguço, Editora Comunicação, BH — (Prêmio Nacional de Literatura
Infanto-Juvenil) — Belo Horizonte, MG — 1983, (4ª. edição — Editora Lê, Belo
Horizonte, MG);
O mágico de olho verde, Editora Nacional, SP, 1984;
Borracha nele!, Editora Lê, 3ª. edição — Belo Horizonte, MG, 1986;
Tecelã de sonhos, Editora RHJ, 5ª. edição — Belo Horizonte, MG, 1987;
Ora, pipocas!, Editora RHJ, 3ª. edição — Belo Horizonte, MG, 1988;
Um jeito vesgo de ser, Editora do Brasil, SP, 1988;
Drácula tupiniquim, Editora RHJ, Belo Horizonte, MG, 1989 (Altamente Recomendável para
Jovens, segundo a Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil);
Moça baleia, Editora do Brasil, SP, 1990;
Idéias às pampas, Editora do Brasil, São Paulo, SP, 1990;
Bicho de goiaba, Editora FTD, 3ª. edição — São Paulo, SP, 1990;
A coelhinha chué, Edição da Autora, Belo Horizonte, MG, 1991; iniciação Espírita.
Condão do gira-mundo, Editora RHJ, Belo Horizonte, MG, 1991;
O Astronauta de Konsolanto, Federação Espírita Brasileira, Rio de Janeiro, RJ, 1992; iniciação Espírita.
Lagarta atrevida, borboleta e vida, Rauer Livros, Uberlândia, MG, 2001;
Uma coelhinha dodói, Alis Editora, Belo Horizonte, 2002;
O livro de (quase) todos, Fundação Cultural de Ituiutaba, 2004. (Este livro foi impresso
na Editora Gráfica Ituiutaba Ltda., sob a responsabilidade gráfica de Edson
Angelo Muniz).
Você precisa de respostas, Editora EME, Capivari, SP, 2018, 176 p.; iniciação Espírita.
Você precisa de respostas, Editora EME, Capivari, SP, 2018, 176 p.; iniciação Espírita.
Participa de várias antologias de contos, de diferentes editoras
brasileiras, e organizou uma — O fino do conto, Editora RHJ, Belo Horizonte, MG.