Ezra Pound, em ABC da Literatura (1934), afirma que "os artistas são as antenas da raça". Isso significa que os artistas são capazes de captar os fatos sociais - e reproduzi-los em sua arte - muito antes do público em geral. Tal percepção pode ser identificada em diversas peças artísticas e literárias, como no conto "Vinte anos de Amélia", de Alciene Ribeiro.
Publicado em Eu choro do palhaço (1978), o conto narra a história de uma personagem que, após uma festa em comemoração aos vinte anos de casada, tem uma tomada de consciência acerca de sua situação e o papel desempenhado dentro da família, e decide buscar sua liberdade.
Há dois dias, em 7 de março de 2017, o projeto Humans of New York postou a seguinte história:
instagram: humansofny
"Depois de vinte anos de casamento, peguei meu marido me traindo e tive que deixá-lo. Mas honestamente gostaria de ter me divorciado muito antes. Por muito tempo eu estive me negando meu direito de ser um indivíduo. A família se tornou muito mais importante que meus sonhos. Eu tinha pequenas alegrias então: adquirir um carro novo, ter nosso aniversário de 20 anos de casados, quando meu filho entrou para a faculdade. Mas agora a intensidade é muito maior. Estou fazendo todas as coisas que eu amo fazer. Estudei nutrição e consegui um emprego no hospital. Eu compro o que eu quero. Eu assisto a desenhos animados. Eu nunca perco um filme do Shrek. Eu vou a concertos de orquestra uma vez por mês. E bem agora estou voltando de uma aula de finanças. Vou investir no mercado de ações e comprar uma casa na praia." (São Paulo, Brasil)
A antena Alciene Ribeiro já captava, décadas antes do relato dessa humana de São Paulo, a busca de mulheres pela independência e pelo joie de vivre longe do casamento.
Reproduzimos, abaixo, o conto "Vinte anos de Amélia":
Gostei muito desse conto, nele podemos sentir a sensibilidade da escritora, retratando fielmente o dia a dia desse ser maiúsculo chamado mulher.
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