Paulo Martins (USP), João Vianney (UnB), Jacyntho Lins (UFMG) e Rauer (UFMS):
mesa-redonda "Re-atualizando os clássicos", no último dia da ABRALIC 2019
De 15 a 19 de julho, em Brasília, aconteceu o XVI Congresso Internacional da Associação Brasileira de Literatura Comparada, ABRALIC, maior evento acadêmico da área de literatura hoje no país.
Entre as diversas atividades, com a participação de pouco mais de dois mil congressistas, houve o lançamento do livro Mulher explícita, de Alciene Ribeiro, com a presença do organizador do livro, Prof. Rauer Ribeiro Rodrigues, líder do GPLV, Grupo de Pesquisa Literatura e Vida.
O professor também fez, durante o evento, duas falas, ambas tendo por tema o novo livro de Alciene e estudando aspectos de sua obra.
Na manhã da terça-feira, dia 16, no Simpósio Literatura e Dissonância, Rauer apresentou a comunicação "Mulher explícita: o conto dissonante de Alciene Ribeiro". Para o professor, "[o] livro de Alciene Ribeiro parece realizar, na completude, a acepção mais ampla da dissonância".
Eis o modo como ele explicou sua afirmação: os "contos [de Alciene] contêm uma linguagem muito peculiar, em que a metonímia do espaço ou da ação configura a personalidade e a interioridade das personagens, através tropos e metáforas. A essa característica que já havia em seus contos dos anos 1970, os novos contos da escritora contemplam novos modos de narrar, quando em confronto auto-intertextual, e recicla gêneros consagrados, dos contos de fadas às epístolas de amor."
Para o professor, no livro Mulher explícita "a vivência do feminino enfrenta seu ser e estar em um mundo em que o feminino destoa do universo que molda a vida social", de tal modo que as personagens, "em seu cotidiano, com suas fraquezas, seu heroísmo, sua vileza, seu embate, seu sofrimento, constituem a matéria prima do universo da escritora".
O professor destacou também que o livro reúne contos inéditos e faz uma recolha de contos dos primeiros livros da escritora, "publicados agora após laboriosa revisão".
Já na sexta-feira, dia 19, na mesa-redonda "Reatualizando os clássicos: modernidade em revista" o professor fez leitura comparada da protagonista do conto "Plenilúnio" com a Penélope da Odisseia, de Homero. A mesa, sob coordenação do prof. João Vianney Cavalcanti Nuto, da UnB, foi partilhada com os professores Paulo Martins, da USP, e Jacyntho Lins Brandão, da UFMG.
Eis uma síntese da proposta de leitura realizada pelo Prof. Rauer nesta mesa:
Marlene, a moderna Penélope, renega a heteronomia, assume seus atos, deixa a espera no passado. Mais que isso, plenilúnio, é lua plena, não lua nova, oculta à sombra de um Odisseu sempre ausente.
Se o homem da modernidade é o sujeito de si mesmo, individualista, sempre em busca da autorrealização, a Marlene de Alciene, ao evocar o mito, renega a Penélope de Homero, renega o patriarcalismo do ser-estar no mundo da mulher da antiguidade clássica, e assume o lugar de quem produz o próprio destino. O mito é reatualizado para se desdizer, ou para se dizer em nova clave.
Os textos completos das duas intervenções serão publi-cados em breve pela ABRALIC.
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